EnTrA. eScUtA o BaNdOnEoN qUe ChOrA
.
.
.

SoLo

.
.
.


Sarita está do lado de fora. À espera. Como sempre. Sarita espera desde sempre o seu par, dizem que eu não sei, que se encantou por uma americana que um dia veio conhecer a milonga e com ela partiu, deixando Sarita noiva e viúva.


Todos se apiedam de Sarita mas nenhum a tira para o tango.


Nem eu. Sei que perdería Adélia para sempre nesse dia.


Sarita fica do lado de fora como uma estátua que admiramos, cumprimentamo-la, mas ela nem nos vê, olha a noite vermelha de sorriso nos lábios.


Tenho a certeza que o que lhe tinge a boca não é baton, é sangue de desespero.

A orquestra toca e ela lá fora.

BáBá E tEoDoRo

.

.







Toda a gente sabe que Teodoro é um desgraçado. Ama aquela mulher de morte. Ama de morte aquela mulher, ela há-de matá-lo, se é que não o faz todos os dias. Mata-o, enterra-o e cospe-lhe na terra que lhe tapa a boca.


Teodoro sabe que Bábá é uma rameira, que vai com qualquer um. Por vezes por dias, depois volta para Teodoro. Só ele é santo para lhe perdoar e fazer o milagre de a honrar como uma deusa.


Todos sabem.


Mas todos sabem também, que assim que a sanfona ataca, Bábá se reduz à mulher amante, à mulher presa nas mãos e nos olhos de Teodoro e mais nenhum no salão lhe tira o fôlego como ele, e toda a gente os admira e inveja os passos, os nós que os atam invisivelmente a um amor que não tem de ser explicado.