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RuAs Do DeStInO
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QuEm MaNdA
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TrItAnGo
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TaNgO dE zILtO
Subi os degraus da milonga a dois e dois, escancarei as portas do salão e avancei.
Sei o que tenho de fazer.
Teodoro aparta-se de Bábá e queda-me pelo braço, aperta-me, fere-me com os olhos, sei que me avisa de que nada posso contra Baron.
Mas hoje posso, eu posso tudo.
Será que ninguém vê que Baron humilha Adelia, arrasta-lhe o vestido pelo sobrado a limpar o rasto de suor dos cabelos e a saliva que lhe fende a boca ao dizer que a faz dele?
Hoje eu posso.
Acerco-me. Agarro na mão de Adelia que se assusta. Baron queima-me o peito com o ódio que o enche, hoje eu tenho mais que ele, nada me faz mal. Afasto Adelia e dou sinal ao bandoneon para atacar.
Seguro a mão direita de Baron, o meu braço esquerdo à sua cinta e sou eu que conduzo este tango.
AnJo NeGrO
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Ouço passos de tanguera. Mas depressa me apercebo da arritmia dos pés de Margot, a coxa.
Pede-me um fumo. Nego-lhe. Pede-me um fumo da cigarrilla que chupo, deito-a ao chão, espezinho as folhas enroladas. Margot apoia-se no meu peito e empinada na perna maior que a outra suga-me da boca o fumo azul.
Empurro-a. Margot é tragédia, azar, o coxo em forma de coxa, só os homens borrachos a tiram para o tango, vai-te anjo negro. Mas Margot ri. Fala de Adelia e Baron, de como toda a milonga se seduz no par elegante e se rendem aos passos entre pernas, aos traços que riscam no sobrado encerado, aos beijos que se suspeita, darão na sala privada de Baron.
Margot sussurra e roça por mim o corpo manco, o cetim do vestido justo cheira a velho, a mal-usado, mal-amado. Diz que tenho que vingar a minha honra, ser um homem, mostrar guelra.
SoLiTáRiO
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TaNgUeRa
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