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As ventoinhas cansadas aguardam que a orquestra cansada se quede. Os músicos empapam os lenços brancos do suor do medo e o homem do bandoneon tem a pele ardida de sentir o aperto do fole na perna trémula.
Cheira a rosas e a medo.
Amarilïs é o diabo, aguenta Baron nos passos, aguenta-me o olhar firme quando lhe roço as coxas, acompanha-nos, não desiste, é brava, limita o espaço do corpo-a-corpo recebendo no corpo os ataques de um, o escudo do outro.
O tango. O tango vai correndo cada canto, todas as diagonais da milonga, o soalho está riscado das nossas investidas, três vezes nós. Baron puxa o braço da sua protegida e vira as costas à orquestra, leva-a de arrasto. Sinto-me vitorioso. Ganhei o espaço do salão, sou um herói.
NO!!!
Amarilïs bate o tacão, solta o pulso apertado e volta para mim. Baron não se vira. Vejo-lhe os punhos crispados a enrubescerem sob a camisa alva. Trazem-lhe o chapéu e sai.
E agora nós. O som só para nós. Amarilïs aconchega a palma da mão no meu pescoço e nos lábios ensaguentados ouço-a baixinho. Sí.
2 comentários:
no ar parece-me pairar o desejo.
o amor...
o amor ao tango
o choro da voz
a paixão a correr
e manda o tanto querer...
da milonga, geme o chão
cheira a medo e rosas
no amor ausente...
amor presente...
e manda o coração!!!!
sempre como se a dança
fosse aqui animada
um tango, sabor da vida
tão fugaz...mas bem servida!
Besos
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