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Uma mulher gritou silenciando o bandoneon.
Senti a minha pele vestir-se de um mar encrespado prestes a tornar-se vagas e destas fazerem-se monstros para o ataque. Não foi só a minha lâmina que sorriu, todos os tangueros presentes cercaram o maldito.
Mas foi Bábá, a que chamam a traidora do coração, que se aproximou dele. De mãos nas ancas, baton do sangue de Serena, meias de rede que tantos apanharam. Riu-se. E depois riu-se. E ainda mais e mais alto. E de um golpe ergueu a perna esguia e na ponta do sapato arrancou-lhe o chapéu que o cobría na condição de macho.
A brilhantina não lhe segurou o orgulho. À vez aparou os golpes de naifa de todos os dançarinos fiéis à milonga. Sujou o soalho na urina do medo, nos olhos a pedirem clemência.
Agarrámos em Serena, perfumada de rum queimado, dançámos com o seu corpo morto um último TaNgO e a alma como o nome, evaporou-se leve ao Criador.
6 comentários:
Que foto mais sensual...blog muito elegante, adequada ao tango...
Haverá sempre um par para que que o Tango não deixe de se dançar...
Bjs
(Apaixonada por este espaço. Não só porque adoro dançar- e o Tango é-me muito especial- como os textos e a musica são...de outro mundo)
Seduzida por tudo o que vejo aqui ouço e pressinto.
E porque adoro dançar (o Tango)
Para sempre. Mesmo depois de terminar.
Zilto, que dramática esta descrição...o baile de/com/da morte...um bj e bom fim-de-semana :)
Serena se foi enquanto o bandoneon
Na sua música a chorou...
E o Tango se dançou...
E Serena, a alma perfumou!
Seu nome ao Criador entregou!...
... ...
Nada disto devia ter acontecido.
Ernesto, o avô
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