EnTrA. eScUtA o BaNdOnEoN qUe ChOrA
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DoNo Do MuNdO

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Todos nos olham. Estamos no disparo das bocas, do perfume das rosas, do aperto do bandoneon.


Talvez achassem que não nos voltaríam a ver na milonga, mais certo amortalhados na cegueira de um amor que se ateou num gesto e se encantou para a vida. E para a morte. Que desta já não há temor a não ser por Ele que nos guia e guarda neste tango maior de passos imprevistos e improvisados no bater descompassado do coração.


Amarilïs está mais linda que nunca, vai-lhe bem o ser mulher.


La Cumparsita por favor. A minha mulher rende-se gemida ao toque nas minhas pernas e sob a palma da minha mão arpejo-lhe as costas nuas que troçam do macio do cetim negro que enverga.


Se isto não é ser dono do mundo então nada mereço, Baron que cumpra o destino.


Por agora todos nos olham e deixam o mel do chão para quem sabe do tango.

SeM mEdO

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Da noite fez-se a madrugada e desta amante o dia ignorou-a trazendo o sol, o calor, a vida.


Se dobrámos a noite e ainda nos amamos é porque somos mais fortes que a morte.

Baron há-de vir, eu sei que vem, é uma hiena que não deixa a carne para outros. Tomar a sua menina é ter fim certo num beco escuro. Não tenho medo, muito menos depois de ter descoberto a verdade nos olhos de Amarilïs. Mas temo por ela, sei que Baron a fará sofrer penas em vida.


E do dia fez-se noite e a noite é para o tango e a milonga para quem se ama.


Entramos os dois, o bandoneon geme forte para nós. Mostremos que não há medos.

TaNgO aMoR

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Antes de tudo acabar seremos nós o nosso fim na entrega completa do mais belo TaNgO.


Não um que seja cantado por quem sentiu o amor trair-se. Ou aquele em que o bandoneon chora pelas noites sem a luz da lua na milonga. Tão pouco um tango escrito ao longe por quem desconhece o que são tangueros e tangueras nem aquele que se desfaz nos fumos enrolados de quem vê dançar e sente a inveja a comer-lhe as entranhas...


Antes de pedirmos a Deus que a nossa alma Lhe seja entregue com cuidado dar-lhe-emos o destino aqui na terra a quem o pede. Amarilïs quer ser minha e eu quero entregar o meu coração esquecendo todas as cicatrizes que tem como se fora novo outra vez.


É nesta noite que o tango se escreve.

É nesta noite que se há-de lembrar aos homens que no balcão matam as brancas em copos grossos a história de um amor golpeado, às mulheres o desejo de serem amadas como a lenda que hão-de passar de boca em boca até se transformar num nome de rosa.


Vem meu amor, dança comigo...


Amarilïs entrega-me o seu sangue de menina e faço-a mulher de Zilto.


Agora pode vir quem quiser porque nunca mais estaremos sós. Teremos o nosso TaNgO de AmOr.