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Ouço passos de tanguera. Mas depressa me apercebo da arritmia dos pés de Margot, a coxa.
Pede-me um fumo. Nego-lhe. Pede-me um fumo da cigarrilla que chupo, deito-a ao chão, espezinho as folhas enroladas. Margot apoia-se no meu peito e empinada na perna maior que a outra suga-me da boca o fumo azul.
Empurro-a. Margot é tragédia, azar, o coxo em forma de coxa, só os homens borrachos a tiram para o tango, vai-te anjo negro. Mas Margot ri. Fala de Adelia e Baron, de como toda a milonga se seduz no par elegante e se rendem aos passos entre pernas, aos traços que riscam no sobrado encerado, aos beijos que se suspeita, darão na sala privada de Baron.
Margot sussurra e roça por mim o corpo manco, o cetim do vestido justo cheira a velho, a mal-usado, mal-amado. Diz que tenho que vingar a minha honra, ser um homem, mostrar guelra.